quinta-feira, 17 de abril de 2025

Reach


O diretor Billy Boyd Cape colabora com o artista de dança, coreógrafo e diretor Botis Seva e seu coletivo de teatro hip-hop, Far From The Norm, para explorar os temas de amor, abandono e paternidade. Em uma jornada de independência, descobrimos a luta interior de um homem entre sua mente e sua alma neste emocionante filme de dança, realizado em parceria com Sadler's Wells.

Cape dirigiu videoclipes para FKA Twigs, Pussy Riot e Pendulum, além de curtas-metragens comerciais e artísticos.

Encomendado para o 20º aniversário de Sadler's Wells, REACH estreou em outubro de 2018.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Someday, de Spike Jonze


Videodança como lente de análise em Someday de Spike Jonze

A videodança é uma linguagem híbrida entre o audiovisual e a dança. Ela se estrutura a partir do movimento, da coreografia, da câmera e da edição como elementos igualmente coreográficos. Não se trata apenas de registrar dança, mas de criar uma experiência sensorial onde o movimento do corpo e da câmera se entrelaçam, muitas vezes em sincronia com o som (ou o silêncio).

Spike Jonze dirigiu um curta em que Pedro Pascal, em plena metrópole, coloca os AirPods 4 e o mundo ao redor muda: o ruído da cidade se dissolve, e ele entra numa espécie de transe coreográfico. Seu corpo começa a reagir à música que só ele ouve, enquanto a cidade continua frenética e indiferente. Spike Jonze, como em “Weapon of Choice” ou “Praise You”, constrói uma coreografia do cotidiano urbano atravessada por esse corpo em dissonância, dançando em meio ao caos.

O silêncio como coreografia: cancelamento ativo de ruído

Na perspectiva da videodança, o cancelamento de ruído não é apenas um recurso tecnológico — ele se torna um elemento narrativo. O silêncio parcial, criado pelos AirPods, molda o modo como Pedro Pascal se move. A câmera de Jonze dança junto com ele, mergulhando o espectador nessa bolha sensorial. O espaço sonoro se transforma em movimento: o corpo de Pascal responde à música interna, mas também ao "silêncio coreografado" do mundo externo.

Montagem e linguagem audiovisual: ritmo como dança

Spike Jonze sempre foi um mestre em montar imagens que respiram com a música. Nesse filme, a montagem provavelmente dialogaria com os batimentos sonoros filtrados pelos AirPods: cortes suaves, câmera flutuante, movimentos lentos alternando com explosões repentinas de energia — tudo conduzido pela música que não ouvimos, mas sentimos no corpo do ator e no ritmo do filme.

Entre a tecnologia e a poesia do corpo

Sob a lente da videodança, o filme não é só sobre fones de ouvido — é sobre o efeito que eles têm sobre o corpo. É sobre o espaço íntimo que se cria no meio do público. Pedro Pascal dança, não por performance, mas porque o mundo, finalmente, está em silêncio, e ele pode se ouvir. É um novo tipo de liberdade, um novo tipo de escuta — e de movimento.

Maldonne - Leïla Ka & Josselin Carré


Com Maldonne, a coreógrafa Leïla Ka e a diretora Josselin Carré criaram uma obra marcante sobre a condição das mulheres.

Onze mulheres em vestidos floridos. Todos diferentes. Algumas frágeis, outras fortes ou sensuais, mulheres de poder, mulheres de feições juvenis, altas, baixas, negras, brancas, algumas já livres ou rebeldes, outras como que sufocadas pelo peso de sua história. Todas diferentes, mas juntas carregando uma comunidade de destinos femininos, uma história que ainda está sendo escrita e uma tristeza comum. Com raiva positiva.

Com o apoio da Onda – Gabinete Nacional de Difusão Artística no âmbito do programa Tela Viva.
Em coprodução com LUX, Scène nationale de Valence e Danse à tous les étage CDCN viajando pela rede Brittany/Tremplin.
Em associação com a ARTE França.
Com a participação do CNC.
Com o apoio do Ministério da Cultura / Direção Geral da Criação Artística.

Les Disparates de Boris Charmatz e César Vayssié

Les Disparates (1994)

Coreografia: Boris Charmatz & Dimitri Chamblas
Direção cinematográfica: César Vayssié

Contexto e importância

Les Disparates é um dos primeiros trabalhos coreográficos de Boris Charmatz e Dimitri Chamblas — criado quando ambos ainda eram muito jovens, com apenas 17 anos. Trata-se de uma peça coreográfica pensada originalmente para o palco, mas que ganhou uma nova dimensão com a versão em vídeo dirigida por César Vayssié, cineasta francês com forte inclinação experimental.

Essa obra tornou-se emblemática não só pela energia juvenil e inventiva da coreografia, mas também pela forma como ela transita entre dança, performance e cinema. A filmagem de Vayssié transforma o que poderia ser apenas uma gravação de dança em uma peça audiovisual pulsante, com sua própria lógica e linguagem.

A coreografia: fragmento e velocidade

Charmatz e Chamblas trazem em Les Disparates uma fisicalidade intensa, marcada por gestos abruptos, deslocamentos rápidos e uma sensação de urgência. O título — que remete a "os díspares", "os diferentes" — já sugere essa lógica do fragmento, do desencaixe, da diferença.

A dupla trabalha com o contraste entre aproximação e afastamento, entre movimentos de fuga e contato, em um jogo de forças e desequilíbrios constantes. É como se os corpos estivessem tentando se conectar, mas fossem sempre levados por forças maiores: gravidade, impulso, desejo, caos.

A linguagem de Vayssié: dança-câmera-montagem

César Vayssié não registra a dança como um observador distante — ele entra nela. Sua câmera é coreográfica, movendo-se com os bailarinos, muitas vezes colada aos corpos, distorcendo perspectivas, fragmentando a imagem.

A montagem também se torna um elemento coreográfico. O ritmo dos cortes, as sobreposições, os efeitos de distorção e os planos fragmentados amplificam a energia da coreografia, criando uma nova camada de sentido que não existia na peça original.

Nesse sentido, Les Disparates não é simplesmente uma dança filmada — é uma videodança em essência: uma obra onde o movimento dos corpos e o movimento da imagem são indissociáveis.

Há algo muito cru e vibrante nessa obra. Ela carrega uma urgência quase punk, uma estética do inacabado que desafia os modos mais polidos da dança tradicional. E essa escolha não é gratuita — é uma marca do pensamento artístico de Charmatz, que mais tarde se tornaria um dos coreógrafos mais influentes da cena europeia contemporânea.

Les Disparates continua relevante porque encarna um espírito de experimentação radical. Ela nos mostra o poder da colaboração entre linguagens: dança e cinema, corpo e máquina, juventude e linguagem.

Se você está pensando em videodança, essa obra é essencial. Ela antecipa discussões sobre presença, mídia, fragmentação, e, acima de tudo, sobre como o corpo pode ser pensado fora do palco — no tempo da imagem, no espaço da tela.

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