domingo, 26 de outubro de 2008

STEVE PAXTON SOBRE CONTATO - IMPROVISAÇÃO

Dançando na
velocidade do medo

Texto de Maíra Spanghero
Especial para o Anexo  Fev. 2000
extraído do link:

http://www1.an.com.br/2000/fev/05/0ane.htm

Criador da técnica de improvisação por contato, bailarino e coreógrafo Steve Paxton fala sobre os novos limites da dança

O compositor alemão Sebastian Bach (1685 1750) era muito conhecido em sua época por ser um improvisador fantástico. Com certeza, se tivesse oportunidade de tocar para o americano Steve Paxton dançar, seus olhos se esgotariam de admiração. Famoso pela criação da técnica da contact improvisation (improvisação por contato), Paxton veio pela primeira vez ao Brasil junto com sua parceira Lisa Nelson. Ele, que completou 61 anos no último dia 21 de janeiro, foi uma das cabeças-chaves do movimento de dança que explodiu em Nova York nos anos 60. Além do talento cênico, o dançarino é um pesquisador comprometido e vem se dedicando ao estudo do corpo e ao ensino há décadas.
Interessado em descobrir outras formas de improvisar, o programa que Paxton e Nelson apresentaram em São Paulo teve muito pouco de improvisação por contato. A dupla, que trabalha junto desde os anos 70, vem desenvolvendo suas maneiras particulares de construir o improviso. Com fama de avesso a entrevistas, Steve Paxton gentilmente nos respondeu algumas perguntas, antes de sua chegada ao Brasil, há duas semanas.

Quais são os princípios mais importantes da técnica de contact improvisation?
Steve Paxton O contact refere-se simplesmente ao tocar. É a sensação do toque que é examinada quando tocamos o chão ou a nós mesmos. Sentimos o peso do nosso corpo e o do nosso parceiro. A gravidade começa a ter um significado especial, bem como a força que atua contra ela, o equilíbrio, o alinhamento dos ossos e a força centrífuga. Num primeiro momento, objetivamente, a improvisação por contato é descrita como se o estudante estivesse dançando física. As novas sensações do movimento, a partir do toque, tornam-se claras com a experiência, com o estado da mente e com o sentimento do corpo. O estado de mente é chamado witnessing (testemunho) que torna o corpo físico apto para se mover através de reflexos. O treinamento inicial é dedicado a capacitar a mente para perceber os reflexos vindos do movimento. Isto é cuidadosamente feito, de forma que o estudante possa mover-se na "velocidade do medo": quer dizer, de forma que a cada momento se sinta seguro, porque mover-se de modo não programado pode criar medo do desconhecido. Isto significa, explorar todas as sensações, olhando como o medo (da queda? de cair para trás?) surge e ensinando lentamente a sensação daquilo que é preciso para uma dança mais completa e confortável.

Que aspectos de sua técnica podem favorecer a formação e o desenvolvimentos de jovens dançarinos?
Steve Esta técnica ensina uma esfera de movimento, não apenas o movimento visto de frente. Dentro desta esfera, o corpo pode estar em qualquer posição. Isso significa que a parte que toca o chão pode ser qualquer uma do corpo. Significa também que estender-se e retirar-se do chão pode acontecer a partir de todos os pontos no corpo. Isso é a razão pela qual todas as conexões precisam ser desenvolvidas igualmente. Improvisação por contato proporciona informação orgânica para uma parceria segura. É o oposto de coreografia. É bom para o corpo, se feito sensivelmente.

Não ao estrelato
A Guerreira de "O+" experimenta o sucesso fulminante que a sensualidade proporciona. Mas a bela cabocla garante que não quer ser estrela. AN_Tevê
Como você vê a situação da improvisação por contato no mundo hoje?
Steve Como você sabe, a contact se esparramou pelo mundo como uma rede. Ela permite aos dançarinos improvisarem juntos não importando o nível técnico básico de cada um. Isto tem sido uma fonte de informação sobre novos desenvolvimentos em dança e seu entendimento físico. Existe uma revista, Contact Quartely, que durante 25 anos tem apresentado artigos sobre dança escritos pelos dançarinos, professores e coreógrafos.

Maíra Spanghero (vira-do-avesso@uol.com.br) é dançarina e pesquisadora no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC/SP
O atleta foi dançar e virou bailarino
A dança contemporânea deve muito a Steve Paxton. O mestre que nasceu em 1939, em Tucson, no Arizona, era um ginasta que começou a fazer dança para melhorar seu desempenho como atleta. Nunca mais parou. Em 1958, aos 19 anos, foi estudar com os grandes mestres da dança moderna americana. Merce Cunningham foi tão marcante que no ano seguinte Paxton mudou-se para Nova York a fim de tornar-se seu aluno. Anos mais tarde foi membro da companhia.
De 1960 a 1961, presenciou o histórico curso de Robert Dunn, de onde saiu a primeira geração da dança pós-moderna americana. Participou de performances históricas com Yvonne Rainer, Deborah Hay, Lucinda Childs, Trisha Brown, Simone Forti e Robert Rauschenberg numa época em que o grande barato era trazer para a cena o movimento cotidiano, como andar e sentar.
No final de 1971, Paxton reuniu 12 homens, em sua maioria atletas, procurando descobrir o que acontece quando dois corpos entram em colisão. O resultado desta, e de tantas outras experiências, pode ser conferido em registros de vídeo ("Magnesium", "Chute", "Fall after Newton", "Dance Ability").
A partir de 1972, o bailarino passou a desenvolver duetos, concentrando sua pesquisa no uso do peso, dos equilíbrios e desequilíbrios além de todas as formas de contato entre dois corpos, o que culminou na contact improvisation. Depois de viver os 12 anos mais intensos da dança americana, Paxton mudou-se para uma fazenda em Vermont, onde vive há 30 anos. (MS)

Um show de corpo e consciência
Foi um privilégio ter assistido Steve Paxton e Lisa Nelson durante duas horas de espetáculo em desempenhos e improvisos únicos! "PA RT", o dueto improvisado dos dois, teve música, texto e voz de Robert Ashley e foi pela primeira vez apresentado na América do Sul. Sua "estréia" foi em 1979, na Inglaterra. Isso nos vale uma questão: será que no caso da improvisação, cada performance é uma estréia? O solo de Paxton em "Some English Suites" (1992), sob música de Bach, revelou sua habilidade em explorar texturas de movimento, além da intenção em meditar sobre o que ainda pode ser improvisado dentro de estruturas prontas, como é o caso de uma música gravada. Em seguida, começou "Dodo" (1981), com Lisa Nelson entrando em cena com um galho na mão. O som de sintetizadores, percussões vocais e instruções como "caia", "pare", "continue", "reverta", "espere", enunciadas do camarim por Paxton, oportunizaram uma rica e inusitada (re)combinação de seu vocabulário. Além de trazer questões ligadas a memória, ao tempo e a continuidade. O mais emocionante foi verificar o quanto uma dança com tamanha inteligência e beleza nos prova que a afirmação do filósofo Descartes, de que o corpo e a consciência são entidades separadas, está pra lá de empoeirada. (MS)

Um duo com prazer
Antes de mais nada: o prazer de dançar a dois. A improvisação por contato é uma técnica onde duas pessoas se movimentam juntas e guiadas pela linguagem sensorial da pele, como o calor, o peso, o toque, a pressão, a direção e a velocidade. Bastante difundida na Europa e nos EUA, esta técnica faz parte do atual conceito da New Dance, cujo eixo principal é a exploração da consciência corporal.
Pelo exercício de manter a pele em contato surge uma dança inusitada que pode ir da quietude a um alto nível de atletismo e vice-versa. Ao trabalhar com transferência de peso em altas velocidades, tal exercício exige um trabalho consistente de alinhamento e de estrutura óssea. A contact também é utilizada no processo de achar novas idéias coreográficas e aposta na construção pessoal do movimento. Por ser um instrumento bastante útil, pode ser praticado por pessoas de todas as idades, tipos físicos e por qualquer tipo de portadores de deficiência física ou mental.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny

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