quarta-feira, 25 de junho de 2008

VIDEODANÇA COMO OBJETO DE ESTUDO

1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
Este projeto de pesquisa refere-se ao Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura em Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina, que é avaliação parcial para obtenção de grau, a ser executado no segundo semestre de 2008.
Pretendo aliar a pesquisa de TCC ao projeto da disciplina de Didática e Prática de Ensino em Educação Artística: Artes Cênicas, ministrando 30 horas de uma oficina de videodança. Dentro do conteúdo da oficina pretende-se realizar com a turma um projeto de videodança para exposição na internet. O objetivo da pesquisa é analisar a aplicação de uma metodologia que venha a pontuar elementos das linguagens da dança e do vídeo e suas possíveis relações para a formação da linguagem do videodança.
O interesse no tema videodança surgiu do encontro entre minha prática em dança contemporânea com ênfase no estudo da improvisação e o olhar da câmera. Com a aquisição de uma câmera de vídeo em Julho de 2006 passei a fazer registros de performances de improvisação do Grupo Outra Dança, do qual faço parte. Percebi que aquele registro era somente uma leitura bidimensional das apresentações que realizávamos, e não a emoção da dança no vídeo. Começou então o interesse em pesquisar a dança estruturada para o olhar da câmera.
A dança Contemporânea nasce da necessidade de encontrar modos de expressão coreográfica em sintonia com o percurso de um século caracterizado pela emergência de novas tecnologias e pelo nascimento de novas ideologias. Arte de pesquisa por excelência, ela se apropria dessas tecnologias, combina outras artes em seu processo, mistura influencias diversas, e assim, feita de múltiplas mestiçagens, reflete o estado de mundo atual (MIRANDA, 2000: 111).
Em outubro de 2006 na cidade de Porto Alegre conheci o Grupo GAIA em uma Oficina de Videodança de Diego Mac, onde pela primeira vez participei de uma abordagem metodológica sobre este tema. A oficina envolvia alguns exercícios corporais, combinando códigos entre corpo e câmera, ação e reversão do movimento, análise de vídeos, produção e filmagem de um videodança de dois minutos para exposição na internet.
Em fevereiro de 2007 fiz um curso de cinema digital, onde criamos roteiro, direção de arte, edição e fizemos um curta-metragem de 15 minutos. Em setembro do mesmo ano, estive no Rio de Janeiro, presente no Festival Internacional de Videodança Dança Em Foco, participando de uma oficina: Entre o vídeo e a dança, ministrada por Alexandre Veras e Andrea Bardawill do Espaço Alpendre – Ceará. Nesta oficina o foco foi a historia do registro fotográfico e cinematográfico na dança, chegando ao vídeo e as indefinições para a linguagem de videodança. Também algumas abordagens sobre o corpo nas obras dos teóricos Focault, Deleuze, Paulo Caldas, alinhavando o contexto contemporâneo entre dança, arte e tecnologia.
No site do Dança em Foco:
A videodança é uma forma artística em pleno desenvolvimento em vários países do mundo, unindo tecnologia, dança e cinema em obras de grande visibilidade através de festivais, distribuição direta e apresentações na televisão. A videodança é definitivamente o veículo de maior alcance para a coreografia contemporânea; seu espaço no cenário artístico nacional cresce visivelmente.
As tentativas de definição desse tipo de obra ainda continuam precárias, incapazes de abranger as inúmeras possibilidades de criação. É freqüente tomá-la como um produto nascido de um diálogo entre a dança e o vídeo, onde essas linguagens se tornam indissociáveis; como uma obra coreográfica que existe apenas no vídeo e para o vídeo. Mas hesitamos já ao grafá-la como videodança, vídeo dança ou vídeo-dança, para não mencionar outras expressões que tentam referi-la. Um inventário da variedade de nomeações disso que se passa entre o vídeo e a dança (variedade especialmente reconhecível na língua inglesa, onde “screen dance”, “dance for the camera”, “camera choreography”, por exemplo, nomeiam práticas e eventos) poderia eventualmente ensinar algo sobre as muitas nuances poéticas e estéticas que atravessam esta produção. (www.dancaemfoco.com.br, acessado em 12/05/2008).
O Dança em Foco vem desde 2003 promovendo o desenvolvimento da linguagem do videodança, com exibições nacionais e internacionais, oficinas e discussões acerca do tema. Em sua ultima edição ofereceu três oficinas, um mini-curso, publicações de artigos de pesquisadores. Abrigou juntamente com a mostra Internacional de Videodança, o II Fórum Latino-Americano de Videodança. Estive presente nos dois dias de fórum onde artistas do Uruguay, Argentina, Chile, Paraguay, México e Brasil puderam discutir sobre temas como acesso, circuitos, curadoria, festivais, meios de formação em videodança.
A terceira oficina abriu mais o conceito de vídeodanca: Videodança Interativa com Armando Menicacci, doutor em dança e novas tecnologias pela Universidade de Paris-8 que apresentou ISADORA, um software de programação para performances interativas, que relaciona corpo, sensores, voz, movimento, vídeo, luz e motores. Esta oficina era parte da programação do Seminário Internacional de Dança Contemporânea Múltipla Dança que aconteceu em outubro de 2007 em Florianópolis.
A partir da participação em oficinas de videodança, pude ampliar meu interesse em conceber a dança em relação às novas tecnologias, buscando diferentes formas de perceber o corpo e a dança. Munida destas novas percepções, criei o weblog Videodança+ (www.saritz5.blogspot.com) que é um site de hospedagem gratuito dedicado a pequenas produções de um minuto de Videodança que realizo, além de fomentar a troca de informações a respeito da dança contemporânea em interação com as novas mídias.
A câmera grava a dança. Ao ser captada por esse olhar, a dança passa por uma transformação: o da mídia. A dança apropria-se desta linguagem para recriar-se em outra dimensão: a tela. A hibridização presente no videodança e a mistura das linguagens do vídeo, dança e cinema dando o panorama do contexto contemporâneo.
Percebe-se a presença cada vez maior de núcleos de investigação, e espaços para reflexão sobre formação e difusão das criações de artistas em Videodança pelo Brasil, podendo também ser citado o exemplo do Festival Internacional Novadança em Brasília, o fomento através de editais e prêmios, a criação do curso de pós- graduação da Faculdade Angel Vianna, "Estéticas do Movimento: Estudos em Dança, Videodança e Multimídia".
Tratando de um curso de licenciatura, verifica-se a importância da pesquisa por se tratar de uma experiência metodológica no campo da dança contemporânea, dentro do sistema das artes cênicas.
Aliada a esta pesquisa está a idéia de estimular o grupo da oficina (comunidade e estudantes do Centro de artes) a se aprofundar na prática da linguagem do videodança ampliando o olhar sobre os conceitos de dança e dançarino, e a reflexão sobre as possibilidades dos corpos em relação à câmera.
Assim o interesse de examinar a dança pensada para o olhar da câmera e contribuir com uma experiência metodológica em um relato teórico-prático neste campo e o que move o tema da pesquisa que me proponho a realizar.
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Avaliar uma possibilidade de abordagem da dança em interação com as novas tecnologias tendo como objeto de estudo a criação de uma oficina de videodança.
2.2 Objetivos Específicos
Pesquisar os desdobramentos entre câmera,coreografia, roteiro e edição.
Analisar relações entre improvisação e coreografia
Relacionar câmera e corpo em espaço-tempo.
3 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
O que é a videodança?
A dança contemporânea relaciona-se com o vídeo produzindo nova linguagem: no videodança o movimento da câmera tem papel integrante na coreografia, relaciona-se tempo e espaço da dança com o da câmera. A videodança é veículo para a produção da dança contemporânea trazendo novas formas de apreciar o trabalho coreográfico.
No artigo de Cristiane Wosniak (2007), ela fala que a dança apropriando-se dos recursos da indústria cultural, até chegar à tecnologia digital:
A dança apropriando-se dos recursos da industria cultural, da fotografia, do cinema, do vídeo e, no século XXI, da tecnologia digital, acabou pro criar uma nova abordagem estética no tratamento de sua linguagem, Quando mediada por um veículo de comunicação – a tela do cinema ou do vídeo, por exemplo – torna-se um gênero artístico independente, com construção sintática, com sua signagem especifica (WOSNIAK, 2007:151)
Chega a uma possível definição para Videodança:
Vídeo- dança: obra aberta a intervenção do espectador que coloca em ação a articulação dos sentidos obra de mensagens múltiplas e fragmentarias... a significação do meio e da mensagem requer outros pressupostos para uma possível (e não infalível) leitura. ...a dança mediada torna-se um novo texto, um novo discurso (esferas artísticas e midiáticas) com código e linguagem específicos- uma signagem – decorrente das possibilidades de interação e de dialogo com as interfaces das novas tecnologias de comunicação (WOSNIAK, 2007:162)
Percebe-se a partir dessas discussões que ao ser midiatizada, a dança se constrói sobre outro parâmetro estético, a direção do olhar da câmera. Após a década de sessenta há o crescimento da relação do corpo com a multiplicação do vídeo e tecnologias computacionais, trazendo novas de perceber a presença do corpo entre a materialidade e a virtualidade.
Com a chegada da era digital, percebemos cada vez mais o uso das mídias na arte onde os conceitos de interatividade e imersão são temas em pauta e neste caso o olhar estende-se até a cena de dança.
Atualmente percebemos o quanto a evolução nos processos da comunicação e da cultura transformaram o conceito de corpo. No contexto contemporâneo devemos considerar o corpo uma mídia comunicacional, onde a natureza e cultura são interdependentes, e a dança como conhecimento e elemento de expressão artística do corpo, acompanha este ambiente em constante reconfiguração. Podemos observar muitos exemplos onde a dança relaciona-se com a seguinte variação de mídias: softwares, videodanças, CD-Rom, câmeras, programas, sensores, luz, som, robôs e etc.A abordagem desta proposta é multidisciplinar e abrange as seguintes áreas do conhecimento: comunicação, tecnologia e dança. Para a produção do videodança e necessário o envolvimento das mídias: câmera, corpo em movimento, software de edição em uma co-dependência de técnicas. Com a postagem dos vídeos no site Videodança+, acrescenta-se mais um elemento: a internet, que oferece trocas de informação e interatividade. Os vídeos curtos são mais rápidos para download além de dar credibilidade à diferentes velocidades de acesso dos usuários.A idéia de videodanças de um minuto para internet foi inspirada nos seguintes tópicos: a chegada da TV digital e sua futura relação com a internet, diversos sites de hospedagem de vídeos (youtube, fiz.tv), festivais de vídeos de um minuto. Aliada a estas questões, estão o crescente acesso e um relativo barateamento dos equipamentos, entre outras alternativas na captação, como câmeras de celular, e máquinas fotográficas-filmadoras trabalhadas em ilhas de edição caseiras.
Em a Dança dos Encéfalos Acesos, Maira Spanghero, vai um pouco mais atrás na história, fala que as relações entre dança e tecnologia começam na Idade Média com os feitos mecânicos das maquinas de voar, passa pelo desenvolvimento das tecnologias de luz para o espetáculo em Loie Fuller, até chegar em Maya Deren.
Já sobre a terminologia videodança ela afirma:
Engloba três tipos de pratica: o registro em estúdio ou palco, a adaptação de uma coreografia preexistente para o audiovisual e as danças pensadas diretamente para a tela...a terceira forma e a screen choreografy (SPANGHERO, 2003:36).
Aponta-se o Videodança como terreno de indefinições, uma vez que múltiplas estéticas surgem na combinação dos elementos que cercam o cinema, a dança e o vídeo. Sobre o contexto contemporâneo de discussão sobre as mídias nas Artes Cênicas, Denise de Oliveira expõe o videodança como linguagem hibrida:
“O filme e o vídeo com o espaços para coreografia são instrumentos para exploração de idéias sobre tempo, espaço e movimento, através da experimentação de ângulos de câmera, locação e técnicas de edição. A pratica dessa articulação dança/ vídeo leva a questionar a natureza da coreografia. Na realidade, pode-se dizer que o vídeo de dança e uma forma hibrida de linguagens, reunindo elementos de dança cênica e do cinema resultando em um produto diferente de ambos.” (OLIVEIRA,2002:66)
A pesquisa que pretendo realizar está dividida em duas partes a primeira é a realização de uma experiência de metodologia em videodança para os estudantes do centro de artes da UDESC. A segunda etapa é uma avaliação crítica descritiva dos processos ocorridos na Oficina.
Na primeira etapa, dentro da disciplina de Didática e Prática de Ensino, cuja carga horária é de 30h/aula será desenvolvida uma metodologia de oficina de videodança. A oficina será oferecida para um grupo de até 15 pessoas divididos entre estudantes do centro de artes da Udesc (variados cursos) que estejam interessados em vivenciar a videodança e pessoas da comunidade que venham a ter alguma experiência nos campos da dança ou do vídeo.
Entende por oficina:
Oficina ( do lat. officina) é o local, sala, edifício onde se exerce um ofício, trabalho… Figurativamente refere ao lugar onde se verificam grandes transformações; um local ou sessões de encontros (meeting) entre profissionais e/ou estudantes para solução de problemas comuns: oficina de literatura; oficina de música; etc.
Oficina pedagógica: ambiente destinado ao desenvolvimento das aptidões e habilidades, mediante atividades laborativas orientadas por professores capacitados, e em que estão disponíveis diferentes tipos de equipamentos e materiais para o ensino ou aprendizagem, nas diversas áreas do desempenho profissional.
(www.wikipedia.com.br acessado em 05/05/2008)
As aulas se dividirão entre teóricas e praticas:
A. teóricas:
História da dança, o estudo da dança contemporânea, a história do cinema e vídeo em relação ao corpo dançante, o estudo do videodança como linguagem, o século XXI e as novas tecnologias em relação a arte, mais especificamente, a dança.
B. práticas:
As dinâmicas serão organizadas de acordo com o interesse e a disponibilidade para as diversas funções que a oficina comporta: dançarinos, videomakers, coreógrafos, diretores. O trabalho sempre será em equipe.
Exercícios corporais : ação e reversão, criação de partituras, exercícios de Improvisação
Exercícios com a câmera: zoom, planos, plonge, contra- plonge , textura e cor, ponto de fuga, profundidade de campo, relacao corpo/ câmera
Análise de videodanças assistidas
Roteiro e Captação (Filmagem de videodanças)
Edição e Apresentação
Na segunda etapa da pesquisa será feita a avaliação sobre o processo metodológico, também dividida em duas partes: a primeira é uma avaliação dos participantes da oficina, a respeito das abordagens no processo e resultados obtidos, a segunda é uma avaliação pessoal sobre esta experiência.
No site i.danca .com, encontramos o artigo de Nuria Trigueras, Metodologia para estudar dança contemporânea, existe uma ? Fala sobre a dificuldade do investigador em dança encontrar referencias para a dança contemporânea, comenta as linhagens metodológicas sobre a produção acadêmica em dança e da característica da dança contemporânea em encontrar-se com outras áreas do conhecimento. Sobre a metodologia em dança contemporânea:
...ainda esta por vir o nascimento de uma metodologia para o estudo da dança contemporânea, que se origine a partir de suas condições especificas. Em todo caso, e tratando-se de uma disciplina relativamente recente, esperemos que um futuro próximo possamos vê-la. Estou convencida disso, pois os últimos anos tem sido cruciais para o desenvolvimento de novas perspectivas metodológicas motivadas por um interesse cada vez mais crescente por este fenômeno tão complexo que e a dança contemporânea.
(www.idanca.com.br)
O próprio site idanca é uma alternativa para pesquisadores da dança contemporânea brasileira de inserirem-se na rede e trocar informações sobre seus processos, alem de ter um acesso aos diálogos e reflexões nacionais e internacionais. No contexto do século XXI, na era da internet, interatividade, tecnologias digitais, cd-roms, ipod’s, HD’S, são inúmeros meios para pesquisa e possíveis explorações estéticas para a dança.
Vale ressaltar que a proposta para o trabalho não é traçar definições sobre videodança, e sim explorar a relação entre as linguagens e seus resultados poéticos, organizando experiências para o grupo vivenciar. Este trabalho também propõe-se a fornecer uma plataforma de criação para uma obra de videodança pelo grupo no decorrer da oficina, para exposição na internet, sendo este também material de análise para investigação sobre os resultados da proposta metodológica. A oficina será realizada em cinco semanas com dois encontros por semana. Quartas- feiras: das 19 às 21hs - aulas teóricas e Sábados : da 14 às 18hs - aulas práticas totalizando seis horas por semana.
Com esta vivência pretende-se estimular os artistas da comunidade e pesquisadores do centro de artes da UDESC, a produção, criação e reflexão sobre a linguagem do videodança.
4 ETAPAS DA PESQUISA
1) Aplicar metodologia de 30h/aula para oficina de videodança, pontuando elementos das linguagens do cinema, vídeo e dança contemporânea que são atuantes na linguagem através de exercícios e bibliografia.
2) Apresentar para a banca de TCC uma avaliação da metodologia e um relato teórico- critico desta experiência.
5 CRONOGRAMA – Jul - Dez de 2008
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MIRANDA, Regina. Dança e Tecnologia, IN SOTER,S. E PEREIRA, R. (Orgs.)
Lições de Dança 2. Rio de Janeiro: UniverCidade Editora, 2000.
OLIVEIRA, Denise. A Imagem na Cena de Dança Contemporânea. IN: Lições de Dança 3. Rio de Janeiro:Lidador Ltda. 2002.
SPANGHERO, Maíra. A Dança dos Encéfalos Acesos. São Paulo: Itaú Cultural, 2003.
TRIGUERAS, Nuria. Metodologia para a dança contemporânea, existe uma?
Extraído do site: www idanca.com.br acesso em 12/05/08.
WOSNIAK, Cristiane. Cine-dança e vídeo-dança: quando o pretexto se faz texto. Húmus 3. Caxias do Sul: Lorigraf, 2007.
Sites:
www.wikipedia.com.br/oficina acesso em 05/05/08.
www.dancaemfoco.com.br acesso em 12/05/08.

Um comentário:

Fernanda Lino disse...

Sarah...que barato teu projeto! Eu não tinha sacado esse lance do corpo também ser uma mídia...Demais!
Pra quando pretendes aplicar a oficina?
Bjão

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